Lembranças da meia noite.
Em Silêncio o acampamento, Este canto vinde ouvir,
São fagulhas da fogueira que nos dizem Escoteiros a Servir...
Um toque de clarim é mágico. Lindo. Marca profundamente para que já tocou ou ouviu seus sons calmos e tranquilos em uma noite de luar ou sem luar. Dizem que é um toque choroso, machucado, que dói fundo no coração. Sua história até que diz isto.
Conta-se que na guerra civil americana um soldado gemia em uma trincheira. Um oficial confederado achou que era alguém do seu batalhão. Com dificuldade o trouxe até onde estavam. Não era um confederado e sim do exercito do norte. Todos o queriam morto e ele morreu.
O oficial agora sobre uma luz bruxuleante nota que o morto parece com alguém. Sim, era seu filho que deixara sua fazenda no sul da Geórgia há muitos anos e foi para o norte. Queria enterrá-lo com honras. Não deixaram. O General confederado com pena chamou um corneteiro. – Toque qualquer coisa quando forem enterrá-lo. Ao retirar os objetos do bolso de seu filho morto viu um pedaço de papel onde ele havia escrito um hino. Surgiu assim a lenda que se transformou em realidade. Hoje esse hino é conhecido como o “Toque do Silêncio”.
Nunca me foi estranho. O toquei diversas vezes no exército onde servi e muitas outras vezes em acampamentos que fiz neste mundão de Deus. O toquei algumas vezes na partida de alguém que foi se juntar ao criador. Toque triste, não era o que eu gostava de tocar. No acampamento sim. Tocava sorrido. Ao terminar gostava de olhar a noite escura. Olhar para o céu estrelado. Olhar as barracas onde dormiam os Escoteiros, onde ao terminar de um dia, onde a fogueira apagou, onde as brasas adormecidas se escondiam em cinzas deixando aqui e ali algumas centelhas que subiam aos céus e tentavam os moleques vagalumes e pirilampos que se divertiam na orla da floresta. Gostava disto. Amava mesmo o Toque do Silêncio. Sabia que a noite seria longa, que sonhos mil iriam habitar a mente da escoteirada que dormia. Hora de ir dormir. Meu clarim guardava com orgulho. Sabia que na manhã seguinte, quando o sol despontasse no horizonte eu iria usá-lo novamente. O Toque da Alvorada.
Mesmo com sono, sentava na porta da barraca. A pequena fogueira era acesa. Nas brasas um bule de café esquentando. Um pão do caçador perdido no meio do fogo. De uma ou outra barraca saia um noctívago. Eram velhos amigos que sempre participavam desta deliciosa conversa ao pé do fogo. Eles sabiam que ali iriam surgir piadas, contos e causos, alguém iria trazer um violão e iriam surgir canções deliciosas e muito mais. Um amor que só os Escoteiros sabem ter um pelos outros. Algumas vezes, perdidos e vindos do meio da floresta, um tatu bola aparecia espantado, uma coruja buraqueira a nos olhar curiosa e até mesmo um antigo amigo um Lobo Guará mais conhecido como O “Anjo Amarelo” esperava seu quinhão de carne que sempre lhe dei. Coisas de um Velho corneteiro. Hoje não toco mais, tocar onde e como? Dizem os Grandes Chefes que isto não se faz. É para os militares. Adoro ser Escoteiro, adoro meu clarim que tanto toquei e que hoje não posso mais tocar. Eu os perdoo estes pobres velhos lobos que não sabem o que dizem. Sei que eles nunca passaram por isto. Não sabem como é lindo um toque de um clarim no seio de uma floresta, em uma noite escura e sem luar, estrelas cintilantes como a aplaudir, o som se espalhando pela mata, um silêncio respeitoso dos animais e da passarada e sentir aos poucos o sorriso da madrugada a chegar.
“O espírito da Coruja mora neste acampamento”!
Boa noite meus amigos e minhas amigas, uma esplêndida reunião neste sábado. Procurem sorrir e ver que este mundo é maravilhoso. Como é belo viver, como é magnifico ser Escoteiro. Duram bem com as graças do Senhor!
Osvaldo Ferraz 16/09/2013