Escoteiros em Sorocaba

Escotismo em Sorocaba

BREVE HISTÓRICO DO MOVIMENTO ESCOTEIRO EM SOROCABA
Dagoberto Mebius
O grande sucesso do movimento escoteiro na capital e em outros estados do país, no início do século XX, proporcionou a muitos uma visão meio ufanista e bastante distorcida dos princípios sobre o que era realmente o Escotismo. Foi com essa visão deturpada que as escolas abriram as portas para que entusiastas de um militarismo disfarçado pudessem colocar uma proposta educativa, que pouco durou (menos de 10 anos). Olavo Bilac, o nosso poeta nacionalista e considerado o “Príncipe dos Poetas”, declara em 1917 os bons meios que o escotismo teria para que a “Pátria” pudesse contar com jovens disciplinados e bem treinados para a defesa do Brasil. Foi ovacionado por essa declaração numa das reuniões da Liga de Defesa Nacional.
 
Mas voltemos a Sorocaba onde os fatos mais concretos são os seguintes: durante as comemorações do Centenário da Independência em 1922, o Professor José Roque de Almeida Rosa, um verdadeiro guardião da moral e da disciplina no Grupo Escolar “Cel. Antônio Padilha” auxiliado por um sargento da Força Pública - Sgt. Epaminondas, (que coitado, morreu tragicamente atropelado por uma carroça na ladeira da rua da Ponte (não conseguimos seu sobrenome e mais informações sobre ele). Sepultado sem nenhuma homenagem no cemitério da Saudade - nem mesmo dos seus fieis escoteiros.
 
Essa instalação do “escotismo escolar” em Sorocaba teve curta duração, apesar do grande incentivo das famílias sorocabanas. Um acampamento em setembro de 1922, realizado as margens do córrego do Tanque e ao lado da antiga Estrada do Tanque Velho (hoje Avenida Barão de Tatuí), próximo à capela do menino Alfredinho marca a instalação desse grupo.
Os grupos escoteiros eram denominados de “Tribo Escoteira”. Essa febre de nacionalismo acabou por levar a instalação de “Tribos” Escoteiras em muitas cidades da região.
Uma das mais atuantes foi da cidade de Conchas, cujos professores de recebiam um “diferencial” no salário pela “instrucção e gymnástica” com as famosas apresentações de “Pyramides Humanas”.
 
Dessa forma o escotismo no Estado de São Paulo era feito por Comissões Regionais - Sorocaba era a 31a. Comissão Regional de Sorocaba o seu escoteiro mais ilustre foi o Sr. George Oetterer, que durante a gripe espanhola foi inclusive agraciado com uma medalha de Honra ao Mérito pelos seus serviços a comunidade. Interessante lembrar que essa medalha foi cunhada por ordem da Prefeitura da época - e não há registros ou documentos sobre o fato - nem nos jornais da época. O escoteiro Oetterer tinha então 13 anos de idade. Filho de um dos mais ilustres cidadãos da cidade e da região. O que nos mostra a existência ainda de outros “agrupamentos escolares mais antigos – dada a atuação do menino George na “Gripe espanhola”.
 
O escotismo em Sorocaba passou a ser praticado de uma forma diferente da proposta de Baden-Powell e se hoje as pessoas se chocam em saber que existem tropas mistas, naqueles primeiros tempos escoteiros conviviam fraternalmente, educadamente e civilizadamente com escoteiras! Coisas do tempo em que educação era “mato”. Até o início da Revolução Constitucionalista de 1932, muitos jovens escoteiros se alistaram nas colunas paulistas, o escotismo parecia que iria vingar, mas assim que a Revolução terminou, o escotismo desaparece de Sorocaba e só volta a ser manifestado pelos alunos do Grupo Escolar Visconde de Porto Seguro no fim da década de 40 e início de 50.
Conhecemos dois escoteiros dessa época, mas pouco se lembram do que viveram, porque foi um período muito curto e com poucas ou quase nenhuma atividade.
 
No mês de janeiro de 1956, um operário da Fábrica de Tecidos Santo Antônio, jovem com então 18 anos, com o apoio do SESI e do seu então diretor Dr. Armando Pannunzio, consegue criar um grupo escoteiro nas depedências do SESI - Clube do Trabalhador nº 2, que ainda se localizava num dos sobrados da Rua da Dom Antônio Alvarenga (demolido). Era o primeiro Chefe Escoteiro de Sorocaba. Chefe Domingos com curso em São Paulo. Em 1957 a sede do Clube dos Trabalhadores nº 2, mudou-se para um velho casarão à Rua XV de Novembro. Um dos auxiliares do Chefe Domingos era um jovem de origem nipônica, mais velho que os demais escoteiros, seu nome era Akira Kaneda, o conhecido hoje Chefe Akira. Nesse ano fiz a minha promessa como escoteiro. Esse grupo foi durante muitos anos uma das melhores escolas de cidadania, pois sua estrutura era realmente de escotismo.

Esse grupo foi o que orientou a formação do Grupo Escoteiro Baltazar Fernandes, na Igreja Presbiteriana, com a ida do Akira Kaneda para esse novo Grupo. Após a saída do Chefe Domingos, o Grupo do SESI, passou a ser chefiado pelo então funcionário do SESI, Sr. José Alves, uma pessoa que apesar de pouca escolaridade, era de uma sensibilidade e criatividade incomparável. Sinto orgulho de ter sido escoteiro desse Chefe. A
pós alguns anos, com o crescimento do Grupo Baltazar Fernandes, era natural, como acontece até hoje, o escotismo se “expandiu” e com saída de um dos seus componentes, criou-se o Grupo Escoteiro Santana.
Daí para cá a história é conhecida com o acréscimo de outros grupos. Mas o que vale salientar é que a cidade durante alguns anos tinha apenas dois grupos – mas como o escotismo no “ramo escotista” é uma festa de status e de cotovelos doloridos infelizmente, muitos outros grupos escoteiros foram criados por fraturas filosóficas. Apesar de ter havido grandes e competentes nomes no escotismo em Sorocaba – como ocorre ainda hoje. No início do ano de 1984, o Prof. Wilson Prestes Miramontes, um idealista e conhecedor do escotismo, conseguiu juntar os chefes dos grupos existentes - GE Baltazar Fernandes (Igreja Presbiteriana); GE Santana (Igreja Católica Santa Rita); o recém-fundado GE Tropeiros de Sorocaba (ACM) e mais os escoteiros da Igreja Mormon (V. Jardini) e formou um Distrito Escoteiro que recebeu o histórico número “31”. Nos anos de 1980 a 1994, outros grupos foram fundados, graças à iniciativa de um escotista: o Chefe Bueno. Conhecido não só em Sorocaba, mas em toda região de São Paulo –
 
 

ELUIZIO BUENO RODRIGUES, ou mais simplesmente Chefe Bueno. Escoteiro do Grupo Escoteiro Baltazar Fernandes nos idos de 1973, quando deixa o Grupo para formar o Grupo Escoteiro Santana, com sede na Igreja de Santa Rita.
Era a segunda dissidência do escotismo sorocabano, evento importante que irá expandir o escotismo na cidade e região. O Chefe Bueno não parou mais de lutar pelo seu ideal.
 
Fundou Grupos, movimentava atividades escoteiras e juntamente com outros escotistas procurava divulgar o escotismo de maneira clara e objetiva e graças a essa dedicação o Movimento Escoteiro em Sorocaba tomou tal vulto que acabou por se destacar de outras cidades.
Sorocaba chegou a contar com pelo menos nove Grupos Escoteiros e todos eles tinham o esforço e a dedicação do Chefe Bueno, orientando e auxiliando os chefes novatos.
 
Foi Comissário Distrital por muitos anos na vacância do titular e posteriormente foi meu vice-comissário. Por essa época o Chefe Bueno ligado ao Rotary Club, oportunizou várias palestras na sede da entidade.
 
Por esses e tantos outros motivos, o Chefe Eluízio Bueno Rodrigues faz parte da história do Escotismo em Sorocaba. E deve sim ser homenageado por esse desprendimento.
Fotografia de 1922 - Grupo de escoteiros do Grupo Escolar Antônio Padilha - Chefiado pelo Prof. José Roque de Almeida Rosa e auxiliado por Sgt. Epaminondas. Note-se que os grupos tinham mascotes, no caso desse grupo era um bode branco.
Ao fundo no alto esquerdo, nota-se a capelinha do menino Alfredinho, segundo a história, orientador espiritual de João de Camargo.

Dagoberto Mebius
Foi escoteiro do SESI. Em 1990/1991, foi Comissário Distrital  de Sorocaba, fundou vários Grupos Escoteiros: Dom Bosco, Vuturaty, Getúlio Vargas, entre outros,

Foi também Executivo Regional de São Paulo, de 1991 à 199x.. PossuiInsígnia de Madeira, cursou o DCB em Juiz de Fora, MG; coordenou o AIP94 em Barretos, fez inúmeras palestras para fundação de Grupos Escoteiros na Região de São Paulo.

Recebeu a medalha de Personalidade Escoteira em 1994 da Sociedade Paulista de Heráldica, Medalha de Bons Serviços 30 anos – Grau Ouro; editou o “São Paulo Escotismo”, órgão da UEB/SP; introduziu o Escotismo em colégios de Sorocaba e Indaiatuba;

Ex-secretário do MMDC – Sorocaba, SP.

Deixou o Movimento Escoteiro em 1995.

Página criada em 27/04/2021.
com base em publicação do chefe Dagoberto Mebius no Facebook em 25/04/2021.