O ponto de vista dos outros

Artigos de Baden-Powell para a revista " The Scouter ", 1909 - 1941
traduzidos por: Capitão Anilto de Ribeirão Pires/SP. 


Tradução


O ponto de vista dos outros

Nossa atitude no Movimento Escoteiro deve ser de não querermos estar em conflito com quaisquer políticas, sejam educacionais, religiosas, ou de outras entidades, mas de ficarmos felizes com seus conselhos ou sugestões.

É nosso objetivo estar em paz com todos e fazermos o melhor em nossa própria linha.

Provavelmente a maioria de nós está em sintonia com ideais socialistas, embora talvez não vejamos com um mesmo olhar a viabilidade de seus detalhes ou de seus métodos.

Nós, no escotismo, desejamos não somente corrigir os males sociais presentes, como também prevenir sua recorrência nas novas gerações, tentar reduzir o grande desperdício de vidas humanas atualmente existentes nas favelas das cidades onde tantos milhares de seres humanos vivem uma existência de miséria pelo desemprego, isto nem sempre por sua própria culpa, mas simplesmente por nunca lhes terem dado uma chance.

O nosso principal esforço é atrair os jovens e colocá-los em um caminho correto para o sucesso em sua vida, nos empenharmos para equipá-los  -- especialmente os mais pobres -- com "caráter" e habilidades manuais para que cada um possa pelo menos ter um trabalho. Se após isto ele fracassa, então é sua culpa e não daqueles que estão em posição de ajudar nossos irmãos menos favorecidos, como acontece atualmente.

O fato é que a justiça e a honestidade nem sempre fazem parte dos currículos escolares. Se nossos jovens são treinados para enxergarem o ponto de vista de seus companheiros antes do seu próprio no julgamento em um litígio, que diferença faria na maturidade de seu caráter!

Esses rapazes não seriam levados pelo primeiro orador que cativa seus ouvidos sobre qualquer assunto, como comumente acontece atualmente, mas desejariam também ouvir o que a outra parte tem a dizer sobre a questão, refletindo por si mesmos como adultos.

E assim é com quase todos os problemas da vida, o poder de julgamento individual é essencial, quer seja nas escolhas políticas, religião, profissão, esportes -- metade dos fracassos e três quartos dos sucessos parciais entre nossos filhos são devidos a carência disto.

Queremos que nossos homens sejam homens, e não cordeiros. E na grande proposição da Paz Internacional, tenho para mim que antes de abolir armamentos, antes de se fazer tratados de paz, antes de construir palácios para os delegados das nações se reunirem, o primeiro passo é a formação de todas as novas gerações -- em cada nação -- guiadas por um absoluto sentimento de justiça. Quando os homens tiverem como instinto na condução das tarefas da vida, olhar as questões com imparcialidade de ambos os lados antes de se tornarem partidários de um deles, então, ao surgir crise entre duas nações, estariam naturalmente mais dispostos a reconhecer a justiça de cada caso e adotarem uma solução de paz, o que é impossível enquanto seus espíritos estiverem acostumados a entrar em guerra como único argumento.

No movimento escoteiro temos a nosso alcance grandes oportunidades para introduzir treinamento prático em justiça e honestidade, como jogos e competições de campo, e através de arbitragens, cortes de honra, ensaios e debates na sede.

Julho de 1912


Original


The Other Fellow's Point of View

OUR attitude in the Boy Scout Movement is that we do not wish to be in conflict with any political, educational, religious, or other body, but we are very glad to have their advice or suggestions.

Our aim is to be at peace with all and to do our best in our own particular line.

Probably the majority of us are in sympathy with the Socialist ideal, though we may not see with the same eye the practicability of its details or its methods.

We, in the Scouts, desire not so much to cure present social evils as to prevent their recurrence in the rising generation; to try to lessen the great waste of human life now going on in our city slums where so many thousands of our fellow humans are living an existence of misery through being "unemployable"; this is not always from their own fault, but simply because they have never been given a chance.

Our main effort is to attract the boys and to beckon them on to the right road for success in life; we endeavour to equip them -- especially the poorest -- with "character" and with craftsmanship so that each one of them may at least get a fair start. If after this he fails it is then his fault and not, as at present, the fault of us who are in a position to give a helping hand to our less fortunate brothers.

The fact is, that justice and fair play do not always form part of our school curriculum. If our lads were trained as a regular habit to see the other fellow's point of view before passing their own judgment on a dispute, what a difference it would at once make in their manliness of character!

Such lads would not be carried away, as is at present too commonly the case, by the first orator who catches their ear on any subject, but they would also go and hear what the other side has to say about it, and would then think out the question and make up their own minds as men for themselves.

And so it is in almost every problem of life; individual power of judgment is essential, whether in choice of politics, religion, profession, or sport -- and half our failures and three- quarters of our only partial successes among our sons is due to the want of it.

When men have it as an instinct in their conduct of all affairs of life to look at the question impartially from both sides before becoming partisans of one, then, if a crisis arises between two nations, they will naturally be more ready to recognise the justice of the case and to adopt a peaceful solution, which is impossible so long as their minds are accustomed to run to war as the only resource.

In the Scout Movement we have it in our power to do a very great thing in introducing a practical training in justice and "fair play," both through games and competitions in the field, and through arbitrations, courts of honour, trials, and debates in the clubroom.

June, 1912.